A Casa da Rua Vista Alegre
O que me chamou a atenção, na casa da Rua Vista Alegre, Nº 463, de minha cidade ( em Posse/GO) foi o fato de ela ser construída quase toda com materiais de refugos, retirados do lixo ou da própria natureza. Compondo um mosaico de pedras, garrafas, cerâmicas, lâmpadas, quadros, molduras, espelhos e uma infinidade de objetos. Enamorei-me desta casa, assim que a percebi pela primeira vez, e a escolhi para ser meu objeto de estudo no tocante aos Espaços Artísticos em Goiás.
Para que eu pudesse entender melhor as ideias por trás daquela composição, decidi conversar com o próprio criador desta obra. Um senhor simpático, Sr. Joaquim Soares Neto (23/03/1946), de 65 anos. Apresentei-me e pedi-lhe permissão para que eu fotografasse a casa e ter um “dedinho de prosa” com ele. Pessoa muito simples, contou que é ex – alcoólatra, e que devido à bebida e à jogatina, perdeu a família e a dignidade, virou andarilho. Contou que chegou “a dar bicho no corpo e no espírito”. Foi internado na Instituição: Comunidade dos Herdeiros da Luz, durante nove meses, para se libertar do vício. Ao que se refere a: “nascer de novo. Foi como uma gestação”. Lá descobriu a Bíblia e com ela aprendeu a cultivar o amor a si mesmo, por que afirma, “primeiro tem que amar a si mesmo para aprender amar a outras pessoas”. Procura falar sempre a verdade, nunca mentir, pois afirma que se mentir, Deus estará vigiando e terá vergonha Dele e da filha que morreu de acidente e se tornou Anjo. Afirma não xingar. Que o xingamento “mancha o espírito”. Mora sozinho e diz ser Deus seu companheiro.No copo de água mira Deus.No almoço convida Deus para ceiar com ele. Ao se levantar e ao se deitar, agradece por mais um dia. Diz não ter religião. Tem amor. E o amor é base de tudo e o amor suporta tudo. Diz que quando cria, esquece de tudo e as ideias fluem. E vai compondo, compondo...”
Descobri essa pérola da arquitetura espontânea e da arte naif. Arquitetura espontânea, ou outsider. A construção do Sr. Joaquim foge totalmente aos padrões. Uma arte que não há regras. A jardinagem e as esculturas utilizadas ajudam a compor esse mundo visionário. O mosaico é muito presente. Alguns nomes, Estevão Silva da Conceição, Gabriel Joaquim dos Santos, Raimond Isidore, Simon Ródia, Ferdinand Cheval, eu diria, são “monstros sagrados” dessa arte espontânea. Sem formação técnica, o Sr, Joaquim vai construindo sua casa, acrescentando adornos, objetos, cacos, ladrilhos, cacos de vidros, pedrinhas, e outros adereços.
A casa da Rua Vista Alegre, adornada com seus objetos, seus jardins, seu apelo musivo, prima pela sua beleza primitiva, produzida por um artista sem formação nenhuma. Porém, o que salta à vista na sua obra, sem muita perspectiva, na sua simplicidade, uma forma educada, uma beleza desequilibrada, assim como Sr. Joaquim, que tenho certeza, a sua obra tende a se tornar um estilo popular, uma pérola da arte espontânea. Numa obra inacabada, um oratório de pedrinhas montado em cima das ferragens de uma ex-gaiola de passarinhos, Sr. Joaquim diz faltar ali uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Prometi levar a ele na próxima semana de presente, é o mínimo que poderia oferecer diante do que me ensinou. Fotografei a Casa sentindo-me um “pintinho no lixo”, literalmente. Ele despediu-se de mim: “vai me achar aqui só no domingo, pois durante a semana, estarei no lixo procurando coisas”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Disponível em:
https://yonelins.tripod.com/arquiteturaespontnea/id3.html
Acesso em 06/2011.
https://www.casadaflor.org.br/public.htm
Acesso em 06/2011.
https://mosaicosdobrasil.tripod.com/id11.html
Acesso em 06/2011
https://br.taringa.net/posts/imagens/15115/O-Pal%C3%A1cio-Ideal-de-Ferdinand-Cheval.html
Acesso em 06/2011
Acesso em 06/2011
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_na%C3%AFf
Acesso em 06/2011
Adelita Rosa de Mesquita